Eu espio os becos de ruas de subúrbio ou de favelinhas em tudo que é canto, eu ando olhando pros postes velhos e emaranhados de fios dançando com suas luzes amarelas, eu observo a fachada de lojas velhas, as calçadas descalçadas, as pichações nos muros de ninguém e quando não há noite, paquero as nuvens cinzas que querem cair sobre mim.
Eu visto corpetes e estampas de oncinha, uso calças rasgadas, escuto de Sex Pistols a Tchaikovsky, gosto de quem gosta de mim e não gosto de quem não gosta. Inventei de estudar Ciências Sociais e enchi o saco de querer arrumar soluções e formular teorias e mais ainda de querer ler e escrever, ler e escrever, ler e escrever e se não for isso, quero viver sem nada pra fazer, ficar à toa nas horas vagas e ter toda noite para brincar de beber. Quero muita merda nessa vida, pra ter inspiração e curar minhas feridas; em páginas sem fim, capítulos hilários que sejam minha casa e a de vários.
Eu não gosto de conservadores, abomino absolutismo em todas as suas formas. Eu odeio arrogância e vaidade cheia de medo, sou a favor de tudo que não cause mal ao próximo, quer seja em termos de substância ou de moral. Sou a favor do fim das fronteiras e dos estados, sou sonhadora e feliz por ainda sonhar nessa realidade tão repressora. Não como carne de animais, pretendo não precisar de nada que tenha sido tirado deles, quero salvar baleias e cuidar de pandas.
Quero descobrir muita banda boa, conhecer muita gente louca, poder ter minha liberdade, mas sempre tendo em tudo poucos e bons do que muitos e ruins. Quero acabar minhas histórias e ser candidata à presidência, quero legalizar o ilegal e fazer carnaval, quero dar férias pra todo o mundo e abolir o dinheiro, quero surfar no Havaí, esquiar na Suíça, visitar o papa e maquiá-lo de Drag Queen. Quero ser diretora de cinema e fazer filmes de Tatska, Rogério e Leafar, quero ter um Centro Cultural em Marília, em Birigui ou wherever, quero ter um yate, ser amiga da máfia do amor, traficar felicidade e corromper com alegria, quero vender utopia e comprar fantasia, quero criar a bolsa de desvalores e criar a bomba de chocolate, quero fazer um satélite pra construir arco íris todos os dias, quero fazer novas cidades sem governo, lei, repressão ou maldade, quero acabar com a pobreza e a violência. Porei flores em todas as armas que encontrar e perfume em todos os mísseis, criarei escudo anti-crueldade humana em todos os lugares do mundo e farei pranchas de surf para todos os tsunamis e skates para qualquer tipo de terremoto.
Quero ser parte do que eu sinto, quero ser parte do que eu vejo mesmo de olhos vendados, quero ser uma árvore, um poste, uma parede, uma águia, quero acabar com o trânsito, com as multas, quero que todos saibam voar e que não exista mais provas, quero que tudo que eu bagunce se arrume sozinho, quero sempre ter comida gostosa para comer e nunca engordar, quero sempre ter dinheiro e sempre poder ajudar, quero que ninguém se desgoste e todos saibam amar.
Quero que minha vida não tenha fim, que meu cachorro não morra cedo, quero ter uma casa só pra mim e uma moto fodona também. Quero sair do meu curso e abominar tudo que tenha a ver com academicismos, quero que não haja partidos, quero que a essência humana se transforme somente em bondade, alegria, prazer, loucura, espontaneidade, coragem, orgasmo e amor, quero subir aos céus, quero ir ao mundo paralelo e beber mrilimy, quero conhecer elfos e anões, quero que Tatska consiga sair de sua prisão, quero que Elleden perca sua noção, quero que todos filmes de fantasia saiam da tela e venham viver conosco, quero ir para Star Wars e ser um jedi, quero ser um X-men muito massa e fazer uma revolução naquele mundo, quero que o Coringa volte ao nosso mundo e bote pra foder no Batman, quero tomar uma com Van Gogh e ir pruma festa com Bukowski, quero fazer karaokê com Vince Neil e jogar Ivete Sangalo pros tubarões.
Quero que os universos não tenham fronteira! Não sei se é querer demais, na verdade ainda acho que quero pouco, mas isso já é um começo para fazer tudo isso acontecer...
*por Jamile Mckagan
